Build vs. Buy: por que as fintechs estão abandonando soluções próprias de core bancário?
- Fernando Seguim
- 2 de abr.
- 4 min de leitura

Por muito tempo, construir internamente o core bancário foi visto como uma prova de força. Ter controle total sobre a stack, personalização completa e independência de fornecedores parecia a rota natural para fintechs inovadoras. Mas o jogo virou.
Cada vez mais, fintechs estão optando por soluções terceirizadas de core bancário. Não por falta de capacidade técnica. Pelo contrário. A decisão de “não construir” vem de um entendimento mais maduro sobre onde realmente está o diferencial competitivo.
O core bancário deixou de ser diferencial?
Não exatamente. Ele continua sendo a espinha dorsal de qualquer operação financeira. Mas o que mudou é a percepção do que é estratégico construir internamente.
Hoje, diferenciação em fintech vem da experiência do cliente, da eficiência operacional, da agilidade em lançar produtos e da capacidade de escalar com segurança. O core bancário é um meio para isso, não o fim. E manter esse meio eficiente, atualizado e seguro custa caro — em tempo, pessoas e dinheiro.
Muitas fintechs começaram construindo seu próprio core. E com o crescimento, ficaram presas a uma infraestrutura rígida, difícil de atualizar, com alto risco de falhas e dependência de times internos sobrecarregados. No papel, a independência parecia uma vantagem. Na prática, virou um gargalo.
Os custos invisíveis do build
Construir um core bancário do zero não é só escrever código. É assumir uma dívida técnica permanente. A cada nova regulação, mudança de mercado ou necessidade de escala, o core precisa evoluir. E isso exige um time altamente especializado, processos de auditoria, testes contínuos e monitoramento 24/7.
Além disso, existe o custo de oportunidade: todo o tempo que sua equipe de produto e tecnologia dedica para manter o core é tempo que deixa de ser investido em criar funcionalidades que realmente encantam o cliente ou geram receita.
Esse ponto é crucial: se a proposta da sua fintech não é reinventar a infraestrutura bancária, por que assumir esse peso?
Terceirizar é abrir mão de controle?
Essa é uma objeção comum e válida, mas está cada vez mais superada. As soluções modernas de core bancário oferecem níveis altos de personalização, controle sobre dados e integração com outros sistemas. A diferença é que você começa com uma base sólida, auditada, segura e preparada para escalar.
Além disso, os principais fornecedores têm como core business justamente manter a infraestrutura sempre atualizada, em conformidade com as regulações (BACEN, LGPD, Open Finance, etc.) e pronta para suportar novos produtos e volumes transacionais. Ou seja, você delega o que é crítico, mas não diferencial.
Time-to-market: a nova moeda
Em um mercado tão competitivo quanto o financeiro, lançar produtos com rapidez é vital. Uma stack proprietária tende a desacelerar o ritmo conforme cresce. Cada nova funcionalidade pode exigir semanas de ajustes, validações e testes na base.
Já com uma plataforma de core bancário terceirizada, boa parte da infraestrutura já está pronta, testada e documentada. Isso permite que squads foquem no que realmente importa: entregar valor ao usuário.
Fintechs que optam por soluções prontas conseguem lançar novas verticais (crédito, conta digital, adquirência) em semanas, enquanto quem constrói internamente ainda está brigando com a arquitetura.
Compliance e segurança: do ônus ao bônus
Outro ponto crítico: o core bancário precisa seguir uma série de requisitos regulatórios. Isso vai muito além de colocar a operação de pé. Envolve controles internos, trilhas de auditoria, segregação de dados, prevenção à lavagem de dinheiro, relatórios para o regulador e muito mais.
Empresas especializadas em core bancário vivem nesse ambiente. Elas acompanham de perto todas as mudanças da regulação e atualizam seus sistemas de forma contínua. Para uma fintech que tenta fazer isso sozinha, cada nova resolução do BACEN pode significar uma dor de cabeça, ou risco jurídico.
Ao adotar uma solução terceirizada, o compliance vira um ativo, e não um peso. Sua operação ganha respaldo técnico e regulatório, além de mais transparência para investidores e parceiros.
Escalabilidade real
Escalar um core bancário não é trivial. É muito mais do que suportar mais requisições por segundo. Envolve resiliência, redundância, disponibilidade, elasticidade, e a capacidade de absorver mudanças sem comprometer a operação.
As plataformas modernas de core bancário já nascem com essa mentalidade. São cloud-native, com arquiteturas modulares e APIs bem definidas. Isso reduz significativamente o risco de downtime e permite que a fintech cresça com previsibilidade.
Muitas startups começam enxutas, mas rapidamente se veem diante de um crescimento exponencial e uma infraestrutura que não acompanha. A migração para um core terceirizado, nesses casos, é inevitável. O problema é que fazer isso no meio da operação é sempre mais caro e arriscado do que começar certo desde o início.
Decisão estratégica, não técnica
No fim do dia, a escolha entre construir ou comprar um core bancário é menos sobre tecnologia e mais sobre estratégia.
Se a missão da sua fintech é dominar um nicho específico, criar experiências únicas ou oferecer produtos financeiros inovadores, talvez não faça sentido investir energia em manter uma stack bancária que já existe no mercado em versões robustas, seguras e escaláveis.
Adotar uma plataforma de core não significa abrir mão da inovação. Significa escolher onde inovar.
O novo paradigma das fintechs brasileiras
O movimento no Brasil reflete uma maturidade maior do ecossistema. As fintechs estão deixando de ver a infraestrutura como algo que precisa ser inventado, e passando a tratá-la como um serviço, tal como cloud computing, segurança, pagamentos e tantos outros.
A pergunta certa não é mais “será que conseguimos construir?”. É “vale a pena construir isso hoje?”.
Fintechs não param de surgir, e a concorrência só aumenta. Tempo, compliance, segurança e escalabilidade são pontos que não podem ser negligenciados. Nesse cenário, soluções terceirizadas de core bancário surgem não como um plano B, mas como a escolha estratégica mais inteligente.
Construir in-house pode funcionar no início, mas manter essa escolha ao longo do tempo custa caro — e desvia o foco do que realmente importa: criar produtos que encantam o cliente e movem o negócio.
Na dúvida entre build ou buy? Lembre-se: controle não é mais sobre possuir tudo, mas sobre tomar decisões que permitem sua fintech crescer com agilidade e segurança.
Comments