Google e a revolução nos pagamentos digitais: Big Techs consolidam posição no Open Finance brasileiro
- Fincatch
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A entrada do Google no ecossistema brasileiro de Open Finance, oficializada pelo Banco Central em março de 2025, representa um movimento estratégico que deve reestruturar significativamente o mercado financeiro nacional. A decisão, que segue tendência global de integração entre tecnologia e serviços bancários, promete intensificar a competição no setor e acelerar a adoção de soluções de pagamento por aproximação via carteiras digitais.
"O ingresso do Google no Open Finance representa um novo paradigma no mercado de pagamentos, abrindo as portas do PIX também para as Big Techs ", avalia Murilo Rabusky, diretor de negócios da Lina Open X, empresa especializada em infraestrutura para o sistema financeiro aberto.
Perspectiva macroeconômica da digitalização financeira
O Banco Central divulgou em abril que o sistema de Open Finance atingiu a marca de R$ 780 bilhões em transações no primeiro trimestre de 2025, representando 14,3% do PIB trimestral. O volume de usuários ativos chegou a 42 milhões, com projeção de crescimento que pode representar uma movimentação adicional de R$320 bilhões até dezembro, conforme projeções do Departamento Econômico da Febraban.
A taxa de crescimento anual composta (CAGR) das transações via Open Finance no Brasil atingirá 20,7%, substancialmente superior à média global de 15% apontada pelo relatório World Report Series Payments da Capgemini. O mesmo relatório prevê que o volume global de transações não monetárias alcançará USD 2,83 trilhões até 2028.
"A digitalização financeira no Brasil avança a um ritmo superior à média global, em parte devido aos avanços tecnológicos do PIX e do Open Finance brasileiro e à alta penetração de smartphones, que alcança 92% da população urbana", explica Rabusky.
Reconfiguração do mercado e impactos na competitividade
De acordo com relatório da consultoria Deloitte, as cinco principais Big Techs (Google, Apple, Meta, Amazon e Microsoft) devem capturar 47% do volume financeiro de transições via cartão digital no Brasil até 2026. A projeção indica um crescimento significativo da participação dessas empresas no mercado financeiro digital, com expectativa de incremento de 18,3 pontos percentuais em relação ao atual cenário, destacando a crescente digitalização dos serviços financeiros.
O mercado de capitais já demonstra sensibilidade a essa transformação. As ações das instituições financeiras tradicionais apresentaram volatilidade média de 4,5% nos últimos trimestres, enquanto as empresas de tecnologia financeira registraram alta média de 9,1% no mesmo perÃodo, sinalizando uma mudança estrutural no ecossistema de serviços financeiros.
"As Big Techs possuem três vantagens competitivas fundamentais: baixo custo marginal de aquisição de clientes, infraestrutura tecnológica escalável e vasta quantidade de dados comportamentais. Esses fatores combinados permitem uma oferta de serviços financeiros altamente personalizada e com custos operacionais reduzidos", analisa o diretor da Lina Open X.
Perspectivas de consolidação e regulação
O avanço das gigantes de tecnologia no setor financeiro também levanta questões regulatórias importantes. O Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) já sinalizaram a criação de um comitê conjunto para avaliar potenciais impactos concorrenciais da concentração de serviços financeiros e não financeiros sob as mesmas plataformas.
Dados da Capgemini indicam que as perdas por fraudes no comércio eletrônico devem ultrapassar US$ 48 bilhões globalmente, representando um desafio adicional para reguladores. No Brasil, a estrutura robusta do Pix e do Open Finance proporciona mais segurança, mas as tentativas de fraude cresceram 34% no último ano.
O relatório destaca ainda que o volume global de transações B2B não monetárias deve crescer 10,8% em 2025 e 11,4% ao ano até 2028, indicando que o impacto das Big Techs no mercado financeiro se estenderá também ao ambiente corporativo.
Projeções e cenários futuros
Pesquisa recente da consultoria Accenture, divulgada em março de 2025, apresenta projeções detalhadas sobre o avanço das Big Techs no setor financeiro brasileiro:
Cenário de base: Big Techs devem capturar 38% do mercado de pagamentos digitais até 2027, com impacto estimado de US$ 3,8 bilhões em receitas deslocadas do sistema bancário tradicional.
Cenário acelerado: participação pode alcançar 52%, caso haja flexibilização regulatória adicional, resultando em pressão competitiva que poderá reduzir tarifas bancárias em até 23%.
Cenário transformacional: em caso de ampla adoção de soluções integradas, as Big Techs podem controlar até 65% dos fluxos financeiros digitais de varejo, forçando instituições tradicionais a buscar fusões e aquisições para manter relevância.
"Os estudos apontam que o cenário mais provável é o acelerado, no qual assistiremos a uma reconfiguração significativa do mercado financeiro. As instituições tradicionais já estão sendo desafiadas a reinventar seus modelos de negócio, focando em serviços de alto valor agregado, enquanto as Big Techs tendem a dominar a interface com o cliente final e as transações de alta frequência", conclui Rabusky.
A expectativa é que os volumes financeiros intermediados pelo Open Finance cresçam a taxas superiores a 30% nos próximos três anos, consolidando o Brasil como referência global em digitalização financeira e integração tecnológica no setor bancário.