Uma startup, como mostra Erick Ries, pode ser definida como uma organização temporária em busca de um modelo de negócios repetível e escalável. Em outras palavras, é um projeto criado por um período temporário, no qual fazem validações, até o momento que o modelo de negócio é definido, testado e validado no mercado, momento que o projeto deixa de ser incerto e passa para outro patamar. Passada a fase de startup, teremos uma empresa com alto potencial de crescimento que terá outros desafios, alcançar novos mercados, estruturação de processos internos e muita contratação.
Já a questão de ser exponencial significa ter um alto potencial de crescimento sem aumento proporcional das despesas. Para isso, é praticamente impossível não ter base tecnológica envolvida na solução.
Estas empresas consumam criar novos produtos e serviços em condições de grande incerteza e, como mostra a boa e velha relação Risco x Retorno, atrai atenção de investidores, afinal de contas, pode trazer altos retornos. É por conta disso que muitas startups, mesmo antes de darem lucro, acabam recebendo grandes aportes.
As startups nascem, em sua maioria, com recursos escassos (modelo startup enxuta) e, ao longo das validações, passam muitas vezes por períodos sem faturamento. Desta forma, surgem as alternativas de investimentos e financiamentos que "apostam" em seu crescimento, que vão desde o capital próprio dos sócios, até grandes investidores. Todos com o objetivo da valorização do negócio e rentabilidade do investimento realizado. É uma questão envolvendo o custo de capital.
Unicórnios, Dragões e Valor
O mundo das startups está cheio de "seres". Em 2013, Aileen Lee, introduziu a expressão "startup unicórnio". A ideia foi fazer um paralelo com algo muito difícil de se alcançar, semelhante à dificuldade de encontrar a criatura mística unicórnio: uma startup avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão, antes mesmo de abrir capital na bolsa de valores.
Já as startups dragões são aquelas que são ainda mais "agressivas" do que os unicórnios, pois são capazes de arrecadar US$ 1 bilhão em uma única rodada de financiamento.
Mas afinal de contas, o que define o valor destas startups, fazendo elas alcançarem números tão expressivos muitas vezes antes de terem um cenário de lucro?
O valor de uma empresa é algo percebido. Existem várias técnicas de mensurar valor de uma empresa, como por exemplo o embasamento em fluxos de caixa projetados, com desconto de uma taxa que reflita os riscos envolvidos. A princípio, o cálculo de valor das startups deveria ser feito como o das demais empresas, porém as incertezas com relação ao seu futuro tornam o desafio mais complexo, mas, ao mesmo tempo, muito importante.
Zebras e Camelos
As startups zebras foram surgindo como uma espécie de contraponto aos unicórnios. A zebra foi escolhida justamente por se tratarem de empresas que se remetem ao preto no branco: são empresas que buscam objetividade, promovendo lucro e melhorando a sociedade, sem precisar sacrificar um pelo outro. Ao invés da quantidade, este modelo busca a qualidade e a sustentabilidade. Ao invés de buscar o crescimento e o lucro a qualquer custo, opta-se pela prosperidade compartilhada.
Já o termo startups camelos foi criado em referência a este animal que se adapta aos vários climas, sobrevivendo sem comida ou água por meses e podendo correr rapidamente por períodos prolongados. Diferente dos unicórnios, são animais reais, resilientes e que sobrevivem em locais de grande dificuldade. Assim, estas startups priorizam a sobrevivência, com equilíbrio de crescimento e fluxo de caixa.
Onda de demissões nas startups
Estamos passando por um momento de grandes transformações no universo das startups.O cenário econômico mundial já vem mostrando algumas fragilidades e o cenário de incertezas envolvendo as startups fica ainda maior.
Até pouco tempo atrás o acesso ao capital estava mais fácil, e assim as startups podiam manter um ritmo acelerado o tempo inteiro, acreditando que a fonte de dinheiro seria quase inesgotável. Isso acabou gerando um grande dano colateral quando foi necessário frear rapidamente, como exemplo trazendo a necessidade de demissões em massa e a redução das despesas, para que elas conseguissem aumentar o seu “Runway” (métrica usada para saber o quanto de dinheiro ainda possui até a necessidade de entrada de novos recursos).
No meio das fintechs a coisa não é diferente. Empresas como Provi, Hash, Ebanx, Quanto, Bitso, SumUp e Warren são alguns dos casos de startups que cresceram, chamaram a atenção de investidores, e estão em momentos de revisão das projeções. Com isso, acabaram decidindo por reduzir a folha salarial.
Estas ondas de demissões não pegou todo mundo de surpresa. O principal ponto definido por várias destas empresas e por especialistas é a revisão das projeções por parte das empresas. Com o momento atual de cautela e aumento das taxas de juros pelo mundo todo. Com o novo custo de capital, ajustes estão sendo necessários.
A reflexão que fica é: será que as startups unicórnio e dragão estão com os dias contados e dando mais espaço para zebras e camelos? Percebe-se uma nova preferência não mais pelas empresas que crescem a qualquer custo, mas sim pelas que crescem de forma sustentável.
Comments