Money 20/20 Las Vegas revela que o futuro das finanças digitais será invisível, integrado e centrado no usuário
- Fincatch

- há 6 dias
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O Money 20/20, principal evento global do setor financeiro e de fintechs, realizado entre 26 e 29 de outubro em Las Vegas, revelou uma mudança de paradigma no mercado: a melhor tecnologia financeira é aquela que o usuário não percebe estar usando. Enquanto inteligência artificial, stablecoins e tokenização dominaram os painéis, uma tese unificadora emergiu dos quatro dias de discussões: o futuro das finanças digitais será construído sobre a intersecção entre dados estruturados, experiência sem fricção e compliance contínuo.
"A infraestrutura financeira está desaparecendo por design, não por ineficiência. Os trilhos operam nos bastidores enquanto a experiência do usuário assume o protagonismo, com liquidação em tempo real, taxas menores e confiança ampliada", analisa o especialista em tecnologias financeiras e CRO da Azify, que acompanhou o evento presencialmente, Gustavo Siuves.
Open Banking e dados estruturados saem da teoria
Um dos destaques do evento foi a demonstração prática de como o open banking deixou de ser promessa e virou habilitador essencial. A plataforma norte-americana Betterment, com mais de US$ 65 bilhões em ativos sob gestão, mostrou como onboarding e funding em minutos via OAuth, combinados com visão holística do patrimônio do cliente, reduziram drasticamente tempo e custo operacional.
O case canadense da Interac e Paramount Commerce exemplificou como dados bem utilizados constroem confiança em escala. O "Moving Day" – quando milhões de canadenses mudam de endereço simultaneamente – inspirou campanhas hiper-segmentadas que se tornaram referência nacional. No combate à fraude, a evolução inclui bloqueio preventivo por emissor, categorização inteligente de transações P2P e intervenção "antes do clique".
"A fricção, quando existe, é intencional e projetada para reforçar a segurança sem comprometer a sensação de controle do usuário. A Retail Payments Act canadense demonstra como abertura regulatória pode reduzir custos e ampliar concorrência sem sacrificar segurança", destaca Siuves.
IA pragmática e prevenção a fraudes são destaques
A FIS, gigante global de tecnologia financeira, trouxe uma das mensagens mais categóricas do evento: o futuro do core bancário será orquestrado por IA, não apenas automatizado. Mas não se trata de chatbots ou assistentes virtuais superficiais, e sim de agentes complexos operando em processos críticos: análise de crédito em tempo real, detecção comportamental de fraudes, precificação dinâmica de risco e personalização profunda de jornadas.
"O consumidor já vive experiências altamente customizadas no varejo digital. Ele espera e exige o mesmo das instituições financeiras. Só com dados estruturados e acessíveis haverá personalização real", afirma o especialista.
As sessões sobre prevenção a fraudes estiveram entre as mais disputadas, com a mensagem de que golpes digitais mais sofisticados exigem respostas algorítmicas instantâneas. “Machine learning para análise comportamental, sistemas de KYC adaptativos e compartilhamento inteligente de indicadores de risco entre instituições tornaram-se requisitos mínimos de operação”, analisa Gustavo.
Tokenização: transações com stablecoins crescem 300%
O debate sobre convergência entre finanças descentralizadas e tradicionais ultrapassou a fase do "se" e migrou para o "quando" e "como". O setor financeiro caminha para um modelo híbrido onde ativos tradicionais e digitais coexistem em fluxos de liquidação 24/7.
De acordo com dados da Artemis apresentados no evento, o volume de pagamentos com stablecoins (criptomoedas projetadas para manter valor estável) cresceu mais de 300% ao ano no segmento B2B. Plataformas como Binance já detêm ativos equivalentes aos dez maiores bancos dos Estados Unidos. As criptomoedas, que já representam cerca de 4% do mercado, despontam como trilho natural para payouts cross-border e liquidações instantâneas.
"A tokenização é para os mercados financeiros o que a digitalização foi para a informação. Até 2030, liquidação instantânea e interoperabilidade entre cadeias serão o padrão, não a exceção", projeta Siuves.
O painel conjunto entre a plataforma global de serviços financeiros digitais Uphold e do software de carteira de criptomoedas, Exodus, revelou que o caminho para levar cripto ao mainstream (termo em inglês que significa "corrente principal" ou "convencional") passa por compliance first e UX first: construir infraestrutura com controles e licenças integrados desde o design, simplificando a experiência até que o uso seja tão intuitivo quanto qualquer aplicativo bancário.
Compliance como recurso de produto
Uma das principais conclusões do Money 20/20 é que compliance deixou de ser obstáculo e virou recurso de produto, embutido na infraestrutura desde o design. Nancy McDonnell, do Texas Capital Bank, foi direta: "A demanda dos clientes impulsiona a inovação bancária. Stablecoins são simplesmente o próximo passo na evolução dos pagamentos."
"Os dados são os novos pilares competitivos, do antifraude ao marketing, da personalização à análise de risco. A IA pragmática já acelera operações de crédito, fraude e atendimento, e prepara o terreno para uma segunda fase: multiagentes coordenando fluxos de risco, onboarding e aconselhamento financeiro com governança explicável", complementa Gustavo.
Cinco movimentos definitivos no setor financeiro até 2030
Com base nas discussões do Money 20/20, Siuves aponta cinco tendências que devem definir o setor financeiro nos próximos anos:
Convergência DeFi-TradFi, com fluxos híbridos de negociação, liquidação e custódia operando 24/7;
Stablecoins multimoeda como novo mercado de câmbio global, substituindo infraestruturas legadas;
Institucionalização on-chain, com bancos e reguladores integrando dados e ativos diretamente em blockchains públicas ou permissionadas;
Educação e clareza jurídica como principais motores de adoção em massa;
Tokenização de ativos reais (RWA) como base do novo mercado financeiro global.
"O Money 20/20 confirmou que a inovação que vence é a que se torna invisível. Quando os trilhos financeiros desaparecem da percepção do usuário, a experiência se torna intuitiva, segura e acessível. No futuro das finanças – que é, na verdade, o presente – confiança, interoperabilidade e propósito são as palavras-chave", finaliza Gustavo Siuves.
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