O que são serviços financeiros invisíveis e como eles irão dominar o mercado em 2026
- Fincatch
- há 14 minutos
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Protagonista de uma histórica transformação digital, o mercado brasileiro se estabelece como modelo mundial de inovação financeira liderada pelas fintechs e também pelas instituições financeiras tradicionais, que acompanham as mudanças. Dados do relatório Global Fintech: Reimagining the Future of Finance mostram que o mercado global de fintechs deve atingir US$1,5 trilhão em receitas até 2030, um avanço impulsionado por soluções baseadas em IA, pela aceleração dos pagamentos instantâneos e pela personalização de serviços.
Dentro desta lógica, aponta no horizonte uma tendência que crescerá em 2026 e ditará o tom até 2030: as finanças digitais não serão mais marcadas por aplicativos chamativos ou interfaces complexas, mas sim pela tecnologia que, intencionalmente, se torna invisível. É o que explica Gustavo Siuves, especialista em tecnologias financeiras e CRO da Azify, ao analisar as macrotendências que redefinem o mercado global. “O setor caminha para um modelo de consumo totalmente integrado, contínuo e sem atritos, onde a infraestrutura financeira é embutida no design do produto e deixa de ser percebida pelo usuário final”, destaca.
Os serviços financeiros invisíveis são soluções bancárias e de pagamento que acontecem “por trás do pano”, sem que o usuário precise pensar nelas ou interagir diretamente com etapas tradicionais do sistema financeiro.
Em vez de abrir aplicativos, preencher formulários ou conferir dados manualmente, tudo é integrado ao próprio fluxo da experiência, seja ao comprar online, contratar um serviço, fazer uma assinatura ou até tomar uma decisão de crédito. A infraestrutura financeira fica embutida no produto, operando de forma automática, contínua e segura, graças a dados estruturados, IA e compliance integrado ao design. Para o usuário, a transação parece simplesmente “acontecer”; para as empresas, é um modelo mais eficiente, rápido e livre de atritos que deve dominar o mercado digital a partir de 2026.
Um dos vetores de aceleração é a consolidação do Open Banking/Open Finance. Tamanho é o crescimento que o Senado brasileiro apresentou, em outubro deste ano, um projeto definindo regras que protegem as pessoas físicas em suas relações com as instituições financeiras (PL 4871/2024), e que versam sobre portabilidade bancária, débito automático entre bancos, acesso à informação e transparência. A proposta segue para sanção presidencial.
“A redução drástica de tempo e custo operacional, aliada ao aconselhamento mais preciso, mostra que os dados bem aplicados são a base para construir confiança em escala. No combate à fraude, a evolução inclui bloqueio preventivo por emissor, categorização inteligente de transações e prevenção "antes do clique", ressalta Gustavo. "Quando há a percepção do serviço, uma fricção, uma etapa visível, ela é cada vez mais intencional e tem como objetivo reforçar a segurança do usuário. Fora isso, tudo tende a ser cada vez menos visível”.
IA estratégica como nova espinha dorsal do sistema financeiro
Se por muitos anos a IA generativa foi vista como ferramenta de interface, o movimento global já aponta para um uso muito mais profundo dessa tecnologia. Grandes instituições começam a colocar agentes complexos de IA no centro do core bancário, operando em tempo real em funções como análise de crédito, detecção comportamental de fraudes, precificação dinâmica de risco e personalização de jornadas.
Segundo Siuves, essa evolução responde à expectativa crescente do consumidor. “O consumidor já vive experiências altamente customizadas no varejo digital. Ele espera e exige o mesmo das instituições financeiras. Só com dados estruturados e acessíveis haverá personalização real”, afirma.
No campo da segurança, a agilidade proporcionada pela inteligência artificial é determinante, pois a prevenção a fraudes exige respostas instantâneas e preditivas, com machine learning capaz de identificar padrões comportamentais, sistemas de KYC adaptativos e compartilhamento inteligente de indicadores de risco.
Para o especialista, esse conjunto de elementos passa de forte tendência, como é até o momento, a mínimo operacional em 2026. “Para o próximo ano, entraremos em uma fase em que o risco é gerido antes mesmo do clique. A inteligência deixa de somente reagir e passa a antecipar. E quando a fricção aparece, ela é intencional, como um lembrete de que a segurança segue como parte da experiência”, analisa.
Stablecoins e tokenização aceleram a lógica 24/7 das finanças programáveis
Outra vertente que transformará a experiência financeira em 2026 e nos próximos anos é o avanço das stablecoins (criptomoedas desenvolvidas para manter um valor fixo ou próximo ao de ativos do mundo real, como o dólar, o euro ou até mesmo commodities) e da tokenização (processo de transformação de ativos “físicos” em ativos digitais). Os dados mostram que o volume global de pagamentos com stablecoins no segmento B2B já cresce acima de 300% ao ano, impulsionado por liquidações instantâneas e operações cross-border mais baratas e previsíveis.
As stablecoins surgem, assim, como trilho natural da nova infraestrutura financeira. “A tokenização é para os mercados financeiros o que a digitalização foi para a informação. De 2026 a 2030, liquidação instantânea e interoperabilidade entre cadeias serão o padrão, não a exceção”, projeta Siuves.
O especialista explica que, para que esse ecossistema alcance usuários e empresas em escala, uma diretriz se torna central: compliance first e UX first. Neste sentido, é necessário construir a camada regulatória dentro do produto, evitando complexidade para o usuário e estabelecendo confiança desde o design. A adoção em massa, segundo o executivo, só acontece quando o uso é tão intuitivo quanto o de qualquer aplicativo bancário tradicional.
Compliance deixa de ser obstáculo e vira recurso de produto
Outro movimento decisivo para 2026 é a redefinição do papel do compliance. “Os dados passam a ser vistos como pilares fundamentais, do antifraude ao marketing, da personalização à análise de risco. A IA pragmática, ou seja, aquela que fornece soluções para problemas como prever o comportamento do cliente, fornecer atendimento automatizado ao cliente e ajudar os clientes a tomar decisões de compra, já acelera operações de crédito, fraude e atendimento, e prepara o terreno para uma segunda fase: multiagentes coordenando fluxos de risco, onboarding e aconselhamento financeiro com governança explicável”, complementa o CRO da Azify.
O executivo sintetiza o futuro próximo em cinco grandes vetores que devem moldar o mercado de 2026 até 2030:
Convergência entre DeFi e TradFi: o sistema financeiro passa a operar em um modelo híbrido, no qual plataformas descentralizadas e instituições tradicionais compartilham fluxos contínuos de negociação e liquidação 24 horas por dia, ampliando velocidade, transparência e interoperabilidade.
Stablecoins multimoeda como novo câmbio global: criptomoedas lastreadas em diferentes moedas ganham espaço como alternativa para pagamentos internacionais, reduzindo custos, eliminando intermediários e oferecendo liquidações quase instantâneas entre países e empresas.
Institucionalização on-chain: bancos, reguladores e grandes players financeiros começam a integrar seus dados, certificados e ativos diretamente em blockchains, criando uma camada de confiança automatizada, auditável e mais eficiente para operações reguladas.
Educação e clareza jurídica impulsionando a adoção: políticas mais nítidas, regulamentações específicas e programas de capacitação aceleram a entrada de empresas e consumidores, reduzindo barreiras técnicas e inseguranças sobre o uso de ativos digitais.
Tokenização de ativos reais (RWA) como nova infraestrutura financeira: imóveis, títulos, commodities e outros ativos físicos passam a ser representados digitalmente em blockchain, permitindo fracionamento, negociação global e novas formas de liquidez — uma base estrutural para o mercado financeiro da próxima década.
A conclusão do especialista reforça o conceito central desta nova fase das finanças digitais: tecnologia não é aquilo que o usuário vê, mas o que ele deixa de notar. “A inovação que se destaca é, na realidade, a que se torna invisível. Quando os trilhos financeiros desaparecem da percepção do usuário, a experiência se torna intuitiva, segura e acessível. No futuro, que já é o presente das finanças, confiança, interoperabilidade e propósito serão as palavras-chave”, finaliza Gustavo Siuves.
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