Se pesquisas recentes têm apontado para um fenômeno em comum – o do aumento da demanda dos brasileiros por crédito –, um estudo feito em março pela fintech FinanZero ilumina outra faceta dessa questão: do início do ano para cá, há uma busca cada vez maior de pessoas acima dos 65 anos por empréstimos financeiros. Considerando a base de pedidos feitos à própria FinanZero em 2023, essa procura saltou 35% entre janeiro e março.
O número chama atenção pelo fato de a média de idade dos solicitantes de dinheiro emprestado na fintech estar na casa dos 35 anos. São pessoas que, desde a pandemia, recorrem ao sistema de crédito para abrir um negócio ou, principalmente, resolver dívidas pendentes.
Em março, vale dizer, o número de pedidos de empréstimos cresceu 23% em relação ao mês anterior, mostram os dados do Índice Financeiro de Empréstimo mais recente.
Quando perguntadas sobre os motivos para pedir recursos no mercado de crédito, as respostas das pessoas acima de 65 anos tendem a se assemelhar às do público em geral: a principal razão também é para pagar dívidas, apontado por 36,71% dos ouvidos na pesquisa.
Em seguida estão demandas próprias da população dessa faixa etária, como renovar a casa (21,76%) e custos com saúde (15%).
Para Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero, o perfil desse público é diferente do que sugere o senso comum: na verdade, muitos idosos permanecem responsáveis pelas contas domésticas depois que se aposentam – quando não seguem economicamente ativos.
Há dois anos, por exemplo, uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNLD) e do SPC Brasil mostrou que 52% dos brasileiros acima de 60 anos arcavam com os custos de suas casas.
"O mercado passou a olhar muito para essas pessoas depois que percebeu o papel econômico fundamental que elas exercem. Não só continuam produzindo, muitas vezes já aposentados, como formam um perfil consumidor particular – que deu origem à expressão economia prateada", explica.
"Por outro lado, o que o dado da FinanZero mostra é que muitas dessas também estão tendo que recorrer a empréstimos para ter um fôlego no orçamento – ou seja, de que nem todas elas têm economias ou ajuda de familiares para passar por momentos de crise", completa.
Os gastos com saúde, por sua vez, se relacionam principalmente com os custos de convênios médicos – que, nesta fase da vida, tendem a ser maiores. Pesquisas feitas nos últimos anos mostram uma capilaridade significativa de planos de saúde entre essa população.
Na percepção de Cezaretto, além desse fenômeno, há também a expansão de um mercado alternativo de saúde, de molde popular, mas que muitas vezes exige gastos extras com consultas e exames. "Entram nessa conta desde quem paga o convênio até quem, pela falta de condições de arcar com esse custo, precisa pagar por medicamentos ou serviços médicos particulares, por exemplo".
Vale lembrar que, no Brasil, há diversas modalidades de crédito voltadas para o perfil de pessoas acima dos 60 anos. O mais conhecido deles é o empréstimo consignado para quem já se aposentou, em que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento.
“É outro ponto relevante”, aponta Cezaretto, “que, mesmo com essas modalidades especiais, muitos idosos encontram vantagens mais relevantes em fintechs. É um sinal de que eles estão atentos às mudanças no mercado bancário”, finaliza.
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